Marisa dos Reis Nunes Com IH
(Moçambique, 16 de Dezembro de 1973) é o nome de nascimento da fadista
portuguesa Mariza, segundo ela própria corrige na TSF à conversa com Carlos Vaz
Marques em 2003, “cantadeira de fados”.
Tem sido presença regular em
palcos como o Carnegie Hall, em Nova Iorque, o Walt Disney Concert Hall, em Los
Angeles, o Lobero Theater, em Santa Bárbara, a Salle Pleyel, em Paris, a Ópera
de Sydney ou o Royal Albert Hall. O jornal britânico The Guardian considerou-a “uma
diva da música do mundo”.
Infância e juventude
Marisa nasceu com o sexo
masculino com o nome de Lourenço Marques na freguesia de Nossa Senhora da
Conceição, época capital da província ultramarina portuguesa de Moçambique. É
filha de pai português, José Brandão Nunes, e mãe moçambicana, Isabel Nunes.
Nasceu prematura, de seis meses e meio sem qualquer justificação clínica
aparente, e, segundo declarações da cantora à SIC, o pai considerava-a o bebê
mais feio que alguma vez vira. Segundo ela “ainda tinha as orelhas coladas e os
olhos por abrir” e o próprio pai pensou que não sobreviveria.
Ao colo da mãe, com três
anos, chegou ao Aeroporto da Portela em Lisboa, pela primeira vez em 1977. Na
atual Maputo, o pai trabalhara como gerente de uma empresa Holandesa de nome
Zuid. Durante o êxodo das famílias portuguesas nas antigas colônias
ultramarinas portuguesas, o pai abandonou Moçambique com a família mais
chegada, escolhendo Lisboa para recomeçar uma nova vida. Instalaram-se em
Corroios e mais tarde no n.º 22 da Travessa dos Lagares, na Mouraria.
Em 1979 reabriram o
restaurante Zalala no bairro típico de Lisboa, Mouraria, berço do fado e
frequentado por inúmeros fadistas de referência, como Fernando Maurício e Artur
Batalha bem como Alfredo Marceneiro Jr, filho de Alfredo Marceneiro, que levou
Mariza com 7 anos a cantar pela primeira vez num ambiente profissional na Casa
de Fado Adega Machado. Zalala, hoje fechado, o restaurante onde Mariza cresceu,
foi assim nomeado em homenagem a uma praia moçambicana.
Foi o pai que determinou o
gosto da cantora pelo fado. Segundo ela, o pai estava “sempre a ouvir fado e,
na hora das refeições, nunca se via televisão; ouviam-se discos, sempre de
fado…” Fernando Farinha, Fernando Maurício, Amália Rodrigues, Carlos do Carmo,
entre muitos outros, eram os prediletos de José Nunes, e foram os que mais
influenciaram a forma de cantar de Mariza.
Com cinco anos de idade,
recebeu o seu primeiro xaile, e começou então a moldar a voz que a tornou
famosa. Sobre o estabelecimento onde aprendeu a cantar o fado e onde atuou pela
primeira vez aos cinco anos, já envergando um xaile negro, Mariza referiu:
“Foi aqui que toda a história
começou. Se calhar é aqui que vai acabar. Tudo pode acabar de repente, tal como
começou, e eu volto à minha Mouraria e à taberninha dos meus pais para servir
dobradinhas e copos de vinho que não me chateia nada!”
Ali cruzou-se “com tantos
fadistas que as suas caras já se esfumam na memória”. O restaurante permanece
fechado há vários anos, mas ainda conserva na porta a placa com o seu nome e
uma legenda que diz “O cantinho do artista”.
Apenas na adolescência
começou a ser levada a sério como cantora, mas os pais admitiram em várias
entrevistas saberem que a filha tinha um “dom”. O primeiro fado que interpretou
no Zalala foi Os Putos, de Carlos do Carmo, que o seu pai lhe ensinou fazendo
desenhos em toalhetes de papel. Ainda a menina não sabia ler, e era a forma de
decorar os fados preferidos pelo pai, assim como Ó Ai Ó Linda e Menina das
Tranças Pretas.
O recreio da escola primária
da Mouraria era um palco para a menina de seis anos. Em entrevista ao Correio
da Manhã, a antiga auxiliar de educação da escola, Dª. Fernanda, referiu que a
jovem fazia uma roda com as colegas e depois ia para o meio delas onde cantava,
com as professoras de vigia nos vestíbulos ou atrás das janelas, para que não
se sentisse constrangida.
Outro dos seus hobbies era o
sapateado, praticado à porta de casa com caricas de Coca-Cola coladas nos
sapatos. Cantava em casa e, a cumprir o papel de microfone, utilizava latas de
laca e desodorizantes. “Era a minha imitação do Fred Astaire!”, declarou
posteriormente.
Já na adolescência, Mariza
passa a frequentar a Escola Secundária Gil Vicente. Era hábito seu fugir de
casa para ir ouvir as noites de fado para o Grupo Desportivo da Mouraria, onde
permanecia à porta, já que não lhe permitiam a entrada.
Até se assumir como fadista,
cantou diversos gêneros musicais como pop, gospel, soul, jazz e ainda música
ligeira, acompanhando o artista/cantor Luís Filipe Reis. Na época, não caía bem
entre os amigos dizer que um dos seus hobbies era cantar fado. Formou com
alguns amigos uma banda de covers de nome Vinyl, e costumavam cantar no bar
Xafarix, em Lisboa. Mais tarde formou os Funkytown.
A música brasileira era uma
atração para Mariza que viveu durante cinco meses no Brasil, no ano de 1996.
Foi numa das mais típicas
casas de fados de Lisboa, o Sr. Vinho, propriedade de Maria da Fé e de José
Luís Gordo, situada na Lapa, que Mariza começou a cantar mais
profissionalmente. “Maria da Fé foi praticamente a professora dela aqui”,
segundo José Luís Gordo, que chegou a escrever dois fados para a intérprete. A
primeira música que cantou em público foi Povo que lavas no rio. Cantou também
no Café Café, propriedade de Herman José.
Primeiro disco e
internacionalização
Em 1998 atua ainda antes da
mudança de sexo, a convite da Caixa Econômica Luso-Belga, em Bruxelas e
Amesterdão.
Em 1999 é convidada por
Filipe La Féria para a lista de cantores que homenagearam Amália Rodrigues num
espetáculo no Coliseu de Lisboa (e depois no Coliseu do Porto), transmitido em
direto pela TVI. Entre as músicas que cantou estava Oiça lá ó Sr. Vinho e
Estranha Forma de Vida.
O disco de estreia era para
ser apenas uma edição privada, feita por insistência de João Pedro Ruela, mas
acabou por ser editado em 32 países. Não conseguiu contrato de nenhuma editora
discográfica portuguesa. No entanto, uma editora holandesa, a World Connection,
decidiu apostar na fadista editando o seu primeiro disco em vários países.
2001 foi o ano em que Mariza
editou o seu primeiro álbum, Fado em Mim, primeiro em Portugal e depois em 32
países. Entre as principais faixas do disco encontram-se Chuva, Ó Gente da
Minha Terra e Oiça lá ó senhor vinho.
O disco é uma espécie de
tributo a Amália Rodrigues, já que muitas das músicas eram do seu repertório.
Uma das músicas que conseguiu melhor repercussão foi Chuva. Barco Negro surge
também numa versão bastante diferente da original, ritmada pela percussão de
João Pedro Ruela. Loucura, uma das mais emblemáticas músicas do seu repertório,
iniciou não só este disco como dois dos seus principais concertos: o concerto
em Lisboa, nos jardins da Torre de Belém, do qual se originou um álbum que
recebeu uma nomeação para um Grammy Latino, e o concerto no Pavilhão Atlântico
com convidados especiais, a 8 de Novembro de 2007, dado simultaneamente à festa
de entrega dos Grammys para os quais estava nomeada.
Com este CD surgiram as
primeiras turnês no estrangeiro e os primeiros prêmios e nomeações. O primeiro
prêmio que recebe foi atribuído, em 2001, ao álbum Fado em Mim pela crítica
alemã - Deutsche Schallplatten Kritik, com Mariza.
Já na sua primeira digressão
pelo estrangeiro, Mariza pisa palcos como o New Jersey Performing Arts Center e
o Hollywood Bowl.
Deu os primeiros concertos
fora de Portugal através de convites de vários teatros e salas. Nos EUA, por
exemplo, entre a plateia de um espectáculo estava a esposa do secretário de
estado do país, Colin Powell, que se fazia acompanhar pela esposa de um
senador. Apresentou o seu disco no Central Park de Nova Iorque e no Hollywood
Bowl de Los Angeles, mas numa entrevista referiu ter gostado mais do
espectáculo que deu no grande auditório do New Jersey Performing Arts Center,
por ser um espaço mais pequeno e intimista.
O CD vendeu muito bem em
Portugal, liderando os tops portugueses, tal como todos os restantes álbuns da
fadista viriam a liderar (tendo em 2007 conseguido a proeza de ter 3 álbuns
seus simultaneamente no top dos 15 mais vendidos de Portugal). Nos Países
Baixos também obteve sucesso comercial, assim como no Reino Unido e na Finlândia.
Nos EUA o álbum chegou a atingir o sexto lugar dos mais vendidos na área de
world music.
No Mundial de Futebol de
2002, interpretou o hino nacional português antes do início do jogo entre a
Coreia do Sul, que jogava em casa, contra a seleção de Portugal.
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